domingo, 11 de março de 2018

Palácio dos Morgados da Mesquita


Fundação do 1.° Conde do Prado D. Pedro de Sousa e de D. Joana de Melo, sua 3.ª mulher, no reinado de D. João III, esteve poucos anos em poder dos descendentes. Em fins da mesma centúria era seu proprietário D. Garcia de Castro, conselheiro de S. Sebastião e Governador da praça africana de Mazagão, casado com D. Isabel de Meneses, pais do Presidente do Senado de Lisboa D. João de Castro, 2.° Governador Geral do Algarve. Em 1638 habitava nele um descendente, de nome ignorado, que foi morto em duelo, na Praça Grande, pelo alcaide Luís Roiz Matoso. No ano de 1776 vivia na casa o capitão de cavalos João da Mesquita. Foi seu derradeiro possuidor deste ramo e último Morgado de Almeida, Vila Nova de Zambujal e Senhor de S. Manços, D. João da Mesquita, fidalgo da casa real, tenente-coronel das milícias de Évora e coronel-honorário dos Batalhões Nacionais, que morreu em 1867. 

Na década seguinte o imóvel passou, por alienação voluntária a Luís Valente Pereira Rosa, cujos herdeiros o venderam ao Estado para instalação do Comando da Brigada de Évora e a partir de 1911 como sede da 4.ª Divisão Militar, transformada na reforma de 1926 em 4.ª Região Militar e actualmente em 3.° Região. A construção mantém, exteriormente, a silhueta e volumes dos meados do seiscentismo, de planta oblonga, apenas de um só andar iluminado por 18 amplas janelas de sacada, com ombreiras e cornijas direitas, de granito, defendidas por balcões de ferro forjado, do estilo barroco. Os telhados são de quatro águas. Sensivelmente no eixo do edifício, que olha ao Oriente, com passagem pública, existe a Rua de S. Cristóvão, com seu passadiço em túnel assimétrico, de abóbadas de cruzaria fortemente contra-fortada. No corpo térreo subsistem algumas dependências de valor arqueológico compostas por tectos de artezões de aresta viva ornatados com obra de estuques trabalhados e coloridos a escaiola. A principal conserva formosa abóbada abatida, de tabelas clássicas, rompentes de mísulas engalanadas, prismáticas; as cartelas, redondas e ovóides, estão engrinaldadas por lambrequins farfalhudos, estando dois dos painéis armorejados com escudos partidos, dos Castros dos seis besantes. Eram as antigas casas da carruagem, cocheiras e dispensas. Numa câmara que deita para o varandim dos jardins, designada antigamente de Sala de Cupido, subsistem as únicas decorações de valor artístico do paço. Mantém as proporções primitivas, de planta rectangular, com tecto de estuques miudinhos, posteriores. Forrando as paredes, pinturas a óleo sobre tela dispostas no seu maior comprimento em triplico e nas menores, isoladas, quatro divindades ou Musas (Alt. 1,48 x Larg. 0,80 m). 

Os painéis maiores representam as Três Graças levando Cupido em triunfo numa quadriga e Castigo de Cupido pelas três Graças (Alt. 1,48 x Larg. 2,60): lateralmente, faixas pintadas com temas pastoris e marinhas, preanunciando as formas de J. Pillement; sotopostos, em medalhões elípticos e ovóides, querubins e alegorias mitológicas em grisaille. Trabalho de feição académica italianizante, foi pintado em 1774, segundo se admite, por Cirilo Wolcmar Machado, quando da sua demorada estadia no solar como hóspede do Morgado João Reboredo Da Mesquita, capitão de cavalos do Regimento de Dragões de Évora. As composições foram, ultimamente, restaurados pelo pintor alentejano João Barata. Da mesma época e do mesmo artista setecentista existiram na cobertura e nos alçados laterais do oratório palaciego, composições a fresco, que foram completamente destruídas nas grandes obras de adaptação do imóvel, realizadas na década de 1930. A fachada posterior do pavilhão Sul-Ocidente, que deita para os jardins, é do mesmo tipo construtivo do axial, igualmente guarnecido por janelas de sacada, graníticas e de bacias de ardósia. As grades, de barrinha, são vulgares e já dos alvores de novecentos. A escada exterior de comunicação ao piso nobre é terminada por alpendre de arcos geminados, com colunelos toscanos e capitéis coríntios, obra de pedraria que vem da reformação da casa (meados do séc. XVII). Num pátio militar, aproveitado como tanque de beberagem de cavalos, subsiste uma caixa tumular de calcário branco com a frente ornada de placas rectangulares, emolduradas, tendo a central, em tabela barroca, a data de 1691. É provável que o túmulo, de personagem desconhecido, tenha pertencido ao demolido e vizinho Convento de S. Domingos. 

BIBL. João Rosa, Pintores dos Séculos XVIII e XIX no Alentejo, in A Cidade de Évora, n.° 11, 1946. 

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