domingo, 14 de janeiro de 2018

Monte do Barrocal


Antiga herdade do património da fábrica do Real Colégio da Purificação de Évora, administrada pela Companhia de Jesus, foi integrada nos bens da coroa após a expulsão desta ordem religiosa em Setembro de 1759 e cedida, pouco depois aos condes-barões de Alvito, então representados por D. José Lobo da Silveira Quaresma, casado com D. Teresa de Assis e Mascarenhas, filha dos segundos Condes de Óbidos, aia do príncipe D. Pedro, primogénito de D. João V, que morreu criança. O nobre fidalgo, 10.° Barão de Alvito, 3.° Conde de Oriola e 1.° Marquês de Alvito, era marechal do Exército Português, conselheiro de Estado, vedor da Fazenda da Repartição de África, gentil-homem da Câmara de D. José I e presidente do Senado de Lisboa. Alienada, no séc. XIX, foi adquirida pelos ascendentes do actual proprietário, sr. Alberto Leger Rosado de Carvalho, que na residência habita. A casa nobre, inicialmente destinada a hospício de repouso para alunos porcionistas, teve começo no primeiro terço do séc. XVIII (em 1736 já estava delineada e em franca construção), segundo traça quadrangular, com seu corpo térreo e primeiro andar de robusta obra de alvenaria apilastrada e de telhado de quatro águas, donde rompe grimpa de ferro com figura alada. 

O belo edifício, de nítidas linhas barrocas, rematado c.ª de 1750 e aumentado, recentemente com um pavilhão de colunata desproporcionada, adossado ao lado sul e sobrepujante ao amplo terraço antigo, de fachada axial voltada a leste, apresenta curioso portal de granito, de tímpano semicircular e pedra de armas marmórea, com a figuração dos cinco lobos em campo de prata dos donatários. Este arranjo é do tempo de D. José I. Cinco elegantes janelas de sacada, no corpo alto, e quatro de peito no rés-do-chão, com molduras de granito, são adornadas de ferros forjados com a cruz de Avis e remates de esferas estilizadas cópias fiéis do estilo barroco de tipo seiscentista. Altaneiro e em opulenta armação de ferros batidos, retorcidos e de pinhas, no topo sul da fachada, fica a sineta bronzeada, de inscrição esculpida. Amplo pátio calçado, envolvido por casario utilitário, é encerrado no lado norte por interessante portal de granito escuro, cronografado de 1763, com fachos ornamentais e frontões de enrolamento, interrompido por pomposa cartela envieirada e sotoposta a uma cruz. É um bom exemplar de estilo rural do último período do barroco alentejano. 

Os jardins, contíguos, têm algumas obras de arte coetâneas e encontram-se muito estimados pelos proprietários. O oratório privativo, sito no corpo térreo, já existia em 1728, conforme indicação do padre jesuíta Francisco da Fonseca e era dedicado à Assunção da Virgem. Enobrecido no último período de ocupação jesuítica, conserva o altar de madeira dourada e pintada, coetâneo, que no trono apresenta uma bela imagem de N.ª S.ª da Conceição, de lenho estofado sobre base de cabeças de querubins, a qual já é mencionada pelo autor citado: lateralmente, em consolas, S. José e outra escultura de menores dimensões, ambas vulgares. Numa credência existe curioso Crucifixo, de madeira oriental, escuro, com aplicações de metal recortado e de filigrana, cravejado de pedras policromas, de fantasia. O Cristo, de marfim, hierático e a composição dramática das cenas da Paixão de Jesus, com figurinhas do mesmo material, metidas em edículas, constituem o conjunto. A peanha está ornamentada com um caranguejo laçado de vermelho e ouro. É trabalho interessante do estilo indo-português alusivo a milagre de S. Francisco Xavier (séc. XVII). 

BIBL. Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, pág. 138-139. 

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