domingo, 10 de dezembro de 2017

Fortificações da Cidade


Três circuitos muralhados teve o burgo: da Alta Idade Média (romano-gôdo), da baixa Idade Média (séc. XIV) e o da Idade Moderna, no sistema Vauban (séc. XVII). O primeiro, construído pelos romanos em época indeterminada mas provavelmente nos primeiros séculos da era cristã protegeu com ligeiras variantes, os povos visigodo e árabe e ainda os portugueses não só durante o agitado período da reconquista como se prolongou até ao reinado de D. Afonso IV. Teve um perímetro, perfeitamente demarcado, de 1080 metros de extensão, com o nome que a história conservou de cerca velha. O segundo plano defensivo, iniciado cerca de 1350 no governo do mesmo monarca, que residiu longos anos no paço acastelado da cidadela, foi dado como pronto uma centúria após, já no reinado de D. Afonso V. Compreendeu um circuito irregular com muro e barbacã na extensão de 3500 metros, atacado de 30 a 40 torres redondas ou quadrangulares (plano de Nicolau de Langres, c.ª 1660), com dez portas e dois postigos de emergência. 

É designada cerca nova e por alguns autores modernos, impropriamente de fernandina, muito embora na administração deste príncipe a obra da fortificação atingisse o seu maior incremento (15 a 20 torreões são desta época). O terceiro e último campo fortificado teve origem primordial no levantamento dos portugueses contra Filipe IV e na prolongada luta pela Independência que nos moveu a coroa de Castela durante 28 anos (1640-1668). Sofrendo inúmeras modificações, teve larga representação no capítulo da engenharia militar da época e foi examinado com estudos levantados, pelos engenheiros Charles Lassart e Jean Gillot, em 1642; Nicolau de Langres, 1648-60; Bartelomy Zanit e Pierre de Saint-Colombe, 1657-1663; Simão Joquet e Jean Brivois, 1660 e ainda pelo artista Allain Manesson Mallet, 1666, sob protecção do Mestre de Campo General Conde de Schomberg. Todavia, os planos definitivos da praça de Évora devem-se aos estudos dos engenheiros Barão de Silincourt, engenheiro-mor do Alentejo, ao capitão engenheiro D. Diogo Pardo de Osório e a ulteriores rectificações propostas pelo cosmógrafo-mor e tenente general de artilharia Luís Serrão Pimentel, que foram aceites pela junta dos Três Estados do Reino em 1660. No curtíssimo período de ocupação da cidade pelo exército espanhol do comando do príncipe D. Juan de Áustria (Maio-Junho de 1663), alguns redutos de emergência foram levantados pelos engenheiros franceses Langres e Saint-Colombe, agora ambos mercenários ao serviço de Filipe IV, e pelo auxiliar italiano Victório António Ache. O Regimento da Fortificação da cidade de Évora foi concedida por documento de 20 de Abril de 1682, com assinatura do Príncipe Regente D. Pedro, que muito contribuiu para o acabamento definitivo mas posterior da praça, entregue com alternância aos cuidados do Governador da Província D. Dinis de Melo e Castro, Conde das Galveias, D. Domingos de Gusmão, arcebispo da diocese e cunhado de D. João IV, Tristão Guedes de Queiroz, D. Afonso de Portugal, Conde de Vimioso e Cristovão Correia Freire, governadores da cidade neste interregno. 

A fortificação, no seu plano definitivo, embora imperfeito, chegou ao primeiro quartel do séc. XIX conforme a deixaram os estrategas seiscentistas e ainda hoje, apesar de algumas demolições impostas pelos vários arranjos urbanísticos, é facilmente reconstituível. Manuel Pereira, mestre de pedraria de nomeada em seu tempo, dirigiu as empreitadas fundamentais da obra militar novíssima, entre 1670-80. Atacados à cerca nova subsistem os seguintes baluartes: AÇA e PICADEIRO, defendendo o castelo manuelino (Quartel dos Dragões, hoje Regimento de Infantaria 16); baluartes do PRÍNCIPE e do CONDE DE LIPPE (Jardim Público e respectiva Mata); forte de S. BARTOLOMEU, cobrindo as Portas de Avis; Baluarte dos APÓSTOLOS (sobranceiro ao extradorço do Colégio da Companhia de Jesus), e baluarte de NOSSA SENHORA DE MACHEDE. A vasta obra cornua do Rossio de S. Brás, com campo de estacaria e aproxes desapareceu durante a regência da infanta D. Isabel Maria (1826-27), assim como o fortim dos PENEDOS, também chamado contraforte, poucos anos depois, o qual ficava num cômoro de terrenos ainda elevados constituindo zona de redentes entrincheirados entre a ermida de S. Sebastião e os Telhais, que estabeleciam seus fogos com o FORTE DE SANTO ANTÓNIO. Era esta a mais poderosa obra militar e chave da cidadela, pois constituía reduto avançado e sentinela vigilante das estradas de Lisboa, Arraiolos e Estremoz, com guarnição permanente em tempo de guerra. Esboçado na sua primeira fase entre 1650-1660 pelo tenente general Nicolau de Langres, foi totalmente refeito depois das campanhas de 1663 sob superintendência do governador da cidade Agostinho de Andrade Freire, general de artilharia. CERCA VELHA Apesar das demolições gravíssimas feitas em tempo do rei D. Fernando entre 1380-83, para com os seus materiais se abreviar o trabalho de cerramento dos muros novos da cidade e de outras destruições posteriores, como as que serviram para construção do Paço dos Estáus em tempos da regência do infante D. Pedro, conservam-se algumas torres e panos completos que atestam, pela sua robustez e aparelhamento de cantaria, a época recuada da sua edificação. Tradicionalmente atribuída, nos fundamentos, aos dominadores romanos, parece que não resiste ao exame técnico e critico da arqueologia moderna o manter-se a afirmação de que as muralhas são deste período. 

Quando muito, apenas os lanços compreendidos no Largo dos Colegiais (solares dos Condes de Basto e dos Duques de Cadaval), pano de suporte do Jardim de Diana, fragmento encravado no muro do quintal da antiga casa dos Condes de Soure e a Porta de D. Isabel poderão ser englobados nos vestígios apreciáveis de uma época muito avançada do domínio cesáreo nesta parte da Lusitânia. Conquanto à delimitação da cintura fortificada é provável que o risco-planta, ligeiramente modificado pelos visigodos e árabes seja o primitivo. O muro do velho burgo, abraçado numa cintura de 1080 metros, com cavas profundas, pontões militares e quatro portas protegidas de torreões era constituído, em planta, por um pentágono irregular mesclado de elementos construtivos dos séculos III, IV, VII, X e do XII, estes já do período português, cujos troços subsistentes, com suas características passamos a descrever, incluindo as fortalezas medievais. CASTELO Defendeu os pontos mais alcantilados da cidadela, para as bandas Norte-Ocidente e era vastíssimo, pois abrangeu os corpos hoje compreendidos desde o Paço de S. Miguel da Freiria e o Convento do Salvador, com absorção dos terrenos da Câmara Municipal, onde existiu o palácio dos Condes de Sortelha. Esta fortificação, ou antes este grupo de fortificações medievais sofreram através dos tempos as vicissitudes inerentes a obras semelhantes e, no séc. XII, ocupadas pela milícia de S. Bento de Calatrava (Avis) foram, talvez pelas suas excepcionais dimensões, divididas em duas partes distintas e interligadas através do pano do arco de D. Isabel. Nasceram assim dois castelos, que as crónicas ducentistas assinalam, mas a tradição consuetudinária deixou perder. 

O castelo godo-árabe, dominando a Porta Nova dos Judeus, era constituído por um grupo de torres sobranceiras e angulares de que são vestígios evidentes os cubelos dos Conventos do Salvador e de S. Paulo, sabendo-se por documento da chancelaria de D. Afonso V, datado de 1450, que outros torreões tinham sido recentemente apeados, a consentimento de D. Duarte, para com os seus materiais se edificar o paço dos Estáus da Praça Grande. No ano de 1886, o cubelo que estabelecia seus fogos com o do mosteiro do Salvador, incorporado no casario do paço dos Condes de Sortelha, desapareceu quando da adaptação do edifício a Paços do Concelho. Os terrenos foram doados pela coroa a Nuno Martins da Silveira, escrivão da Puridade del-rei, ascendente dos mencionados titulares e de Vila Nova de Cerveira, sendo a parte Setentrional alienada em 1606 para fundação religiosa franciscana e a sobranceira absorvida no ano de 1464 por D. Lopo de Almeida, veador da Fazenda de D. Afonso V, 1.° Conde de Abrantes, e interiormente, em 1578, sob beneplácito do Cardeal-Infante D. Henrique cedido aos padres da Congregação da Serra de Ossa para edificação do Colégio de S. Paulo. A grande torre deste imóvel, que serviu de Arquivo e Tesouro do Infante D. Luís, pai do célebre D. António, Prior do Crato e efémero rei de Portugal, ruiu em parte durante a explosão e incêndio que a atingiu no ano de 1650. Portanto, deste primitivo castelo que a história e os documentos escritos assinalam, apenas subsistem, ao presente, as duas relíquias de arquitectura militar que são as torres dos Conventos do Salvador e de S. Paulo e talvez a angular da Rua Nova, descritas neste Inventário (Évora - Cidade e Concelho), especialmente, nos respectivos textos que lhe dizem respeito. CASTELO PORTUGUÊS É relativamente fácil demarcar a sua periferia completa, tanto pelas citações documentais que são uniformes como pelos restos subsistentes. 

Compreendia o chão dos actuais imóveis: Solar dos Condes de Basto e torre Mouchinha (destruída), limite para o lado oriental: torre de Sertório, encorporada no Convento dos Lóios e parte das casas dos Condes de Portalegre, depois do arcebispo D. João Coutinho (residência do eng. Henrique Chaves), a sul; Convento de S. João Evangelista e palácio dos Duques de Cadaval ao poente e norte, rematado sobranceiramente pela altaneira torre pentagonal. Muito vasto e situado em magnífica situação estratégica, com parte roqueira de sólidos alicerces para a banda do campo, tendo alcácer, castelejo e praça de armas, barbacã e capela privativa (S. Miguel Arcanjo), era considerado inexpugnável, como diz Fernão Lopes no capítulo 45 da Crónica de D. João I. A esta fortaleza estão ligados alguns episódios históricos de notória projecção nacional, como os da extraordinária defesa de 1191 contra as hostes poderosíssimas do príncipe aimóada Iaçub, que reconquistou todo o Alentejo exceptuando Évora; a permanência nela dos freires de S. Bento de Calatrava, de 1176 a c.ª de 1220, como sede da Ordem de Cavalaria de Évora, depois de Avis; os incidentes do reinado de D. Fernando provocados pela rainha D. Leonor Teles e a prisão intempestiva do infante depois rei D. João I, desagravado pela prudência do alcaide-mor Vasco Martins de Melo e, finalmente, os acontecimentos patrióticos de Janeiro de 1384 contra o partido da regente e de D. João de Castela, representado pelo governador Álvaro Mendes de Oliveira, que originaram a parcial destruição por fogo e derribamento intencional de grande parte dos muros, portas e torres. 

O alcácer não sofreu ruína irreparável, pois logo no ano imediato nele se instalou na qualidade de fronteiro-mor da província o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, que aqui várias vezes recebeu o Rei da Boa Memória e onde nasceu, em 1397, a princesa D. Isabel, futura Duquesa de Borgonha e mãe de Carlos o Temerário. A primeira medida régia que originou a amputação do castelo saiu da chancelaria no ano de 1398, com a outorga de doação da torre pentagonal, outrora albarrã, para residência do guarda-mor del-rei e alcaide da cidade Martim Afonso de Melo, um dos genearcas mais ilustres da Casa de Cadaval. Seu filho primogénito, do mesmo nome, alcaide-mor de Olivença e guarda-mor das pessoas reais de D. Duarte e D. Afonso V, obteve a confirmação das casas sitas no perímetro muralhado, em 1432 e a benesse ulterior segundo diploma de 30 de Abril de 1446, ambas concedidas pelo regente D. Pedro, da ampla dotação de grande parte do castelo excluindo, somente, a zona patrimonial de D. Diogo de Castro, o Velho, antepassado dos Condes de Basto e fundador do paço hoje chamado de S. Miguel. Elementos positivos da venerável construção mediévica são os seguintes: Fragmento do muro de grosso aparelho de granito e de alvenaria robustecida, compreendido entre o extradorso da capela-mor da ermida de S. Miguel Arcanjo e a torre quadrangular do paço dos capitães da cidade, a qual conserva, sobretudo até altura do segundo andar, embora restaurada em 1960, parte da cantaria original. 

Na reprega do muro, que foi refeito por D. João II em 1481, rasga-se com o pontão agora reconstituído, a nova PORTA DA TRAIÇÃO (aberta para substituir a do mesmo nome que fora tapada em 1384 pela fúria demolidora do povo em revolta), e que os arquitectos quinhentistas do Colégio e Universidade do Espírito Santo, na década de 1580 sacrificaram definitivamente como obra militar. O portado existente, de granito, com arco segmentar chanfrado, é desta época e a sua serventia passou ao absoluto domínio dos donatários da casa como porta de serviço da carruagem. O lanço imediato da muralha, suportando os terrenos dos jardins do mesmo solar, conserva a robusta cantaria romano-goda e duas meias torres cúbicas de idênticos materiais, servindo uma delas de gigante da imponente frontaria do belo salão árabe do palácio. Outro lanço reaparece no interior do extinto mosteiro dos Lóios, a par do único fragmento da barbacã trecentista do castelo, que serve de alicerce aos dormitórios e onde se localizou, no ano de 1944, durante os restauros orientados pela Direcção dos Monumentos Nacionais, a primitiva PORTA DA TRAIÇÃO. Exemplar gótico de lanceta muito acentuada, encontra-se completo, com munhoneiras e restos de pavimento; tem características militares dos princípios do séc. XIV, talvez da época de D. Afonso IV. Vestígios da torre quadrada que defendia a porta, subsistem no torreão-campanário do mesmo convento: quase aparelhado e já no corpo palaciano da casa Cadaval, ergue-se outro cubelo de melhor e mais antiga cantaria, assim como panos contínuos de muro regular evidentemente da Alta Idade Média, os quais terminam na torre quadrangular e angular, ameada, protectora da PORTA DO MOINHO DE VENTO, esta já da cerca nova quatrocentista, mas com blocos graníticos no embasamento da fortificação anterior. 

A grande torre albarrã, pentagonal, é um exemplar notável de arquitectura militar e poderá ter servido de Torre de Menagem do Castelo. Nela nasceu a casa-mãe, em 1398, dos Melos, de Évora, antepassados do ducado de Cadaval. De cantaria aparelhada passante de meia altura, tem corpo terminal de alvenaria, com câmara iluminada por formosa janela geminada, do estilo mudejar, do tempo do Conde de Tentugal, D. Rodrigo de Melo, de c.ª 1520, e coroamento de merlões góticos, em factura quatrocentista. A torre quandrangular sul do paço, com ameias do mesmo tipo, toda de alvenaria, foi completamente transformada em função habitacional através dos tempos e apenas conserva o seu aspecto bélico nos volumes exteriores, bem engalanada de balcões góticos de mainéis ornados de capitéis muçulmanos. Quase intacta está a Torre de Sertório (designação seiscentista), também de alvenaria grossa, com alguns silhares de aparelho romano, graníticos e blocos facetados nos ângulos, antiga guarda avançada do solar dos Melos, sobranceira ao corpo norte da Catedral, onde se encontra instalado desde 1869 o Observatório Meteorológico e que, durante centúrias, fez parte integrante dos bens terrenos do Convento de S. João Evangelista. Construção do período português, tem características trecentistas e talvez seja obra do tempo de D. Afonso IV ou de D. Pedro I. De altura máxima de 18 metros, tem sala no 1.° piso, de planta quadrangular abobadada, gótica, com reforço de nervuras em forma de cunha e de aresta viva e caixa cilíndrica para escada de caracol. A c.ª de 6 metros do solo, no exterior, no cunhal da banda norte-oriente existe, aplicada como material de construção, uma inscrição latina, comemorativa feita de mármore azulado da região de Beja, nas seguintes medidas: Alt. 1,00 x larg. 55 cm. A pedra, mutilada, é de difícil leitura: IVNI. L. GAL / P. VIL / CNOBI. ANVM F / N... D... / HIRI Dela nasce o muro divisório da extinta comunidade e dos jardins da casa dos Castros em linha irregular até ao canto do dormitório fradesco, subsistindo a seguir um pequeno pavilhão onde se abria antiga porta do tempo de D. João III e para sua utilidade, construído sobre restos da cintura castelã. 

Relacionados os volumes e restos outrora ocupados pelos castelos, passamos a mencionar os vestígios da CERCA VELHA e suas portas militares. A única entrada completa, embora despojada de torreões, é a chamada desde épocas imemoriais de D. ISABEL, situada de permeio entre as duas fortalezas medievais. Exemplar romano do tipo vulgar, tem 4,40 m de altura por 4 m de vão, sendo a volta semicircular composta por 29 silhares graníticos. O arco interno, de construção posterior, dos sécs. XII-XIII, fica ligeiramente mais alto (5,62 m) e é trabalho medíocre. Conserva o golpeamento interior para deslize da porta levadiça. Esteve, durante séculos, encravado entre pardieiros do Convento do Salvador, os quais, ao serem demolidos em 1933 para no local se construir o edifícios dos C.T.T., houve necessidade de nivelar o chão público, descobrindo-se então restos da via romana da cidade, constituída por robusto lagedo irregular, de granito almofadado, que foi ulteriormente picado pela exigência urbanística. Na parede da banda oriental apareceu, em limpeza recente (1958), uma cabeça de figura romana de mármore branco, mutilada, na representação de um Deus ou Imperador desconhecidos. Recolheu ao Museu Regional. Bocados de cantaria regular, também romana, limpos posteriormente, subsistem no lanço quase imediato, em murete de suporte dos jardins da antiga casa dos Condes de Soure (Comando de Polícia de Segurança Pública), que já nos meados do séc. XVI estavam em poder dos ascendentes, representados pelo fidalgo João Patalim. Importante é o fragmento robustíssimo de amparo das terras do Jardim de Schomberg, sobre o qual existiram até meados da centúria passada construções particulares, que foram apeadas por utilidade pública por volta de 1870, quando da desobstrução do Templo Romano e consequente ajardinamento do Terreiro do Marquês, hoje Largo do Conde de Vila Flor. 

Em 1536, sob direcção do arquitecto Francisco de Arruda rompeu-se o muro antigo da Rua Nova e da Travessa de Sertório, que ligava à torre quadrada, de andares, do solar dos Barretes de Carvalho que era habitada nesse ano por D. Beatriz da Silva e seu filho D. Rui de Melo, ascendentes daqueles fidalgos. Segundo tradição local, confirmada pelo latinista cónego Diogo Mendes de Vasconcelos, é obra do séc. VII atribuída ao rei godo Sisebuto, que na cidade cunhou moeda; à falta de documentos escritos deve pôr-se de remissa a atribuição, porquanto o exame técnico da cantaria que a reveste parece não ir além do séc. XI ou XII. Provavelmente foi restaurada nesta centúria, depois da campanha muçulmana de 1191. Outro lanço de aparelho do muro velho, torreado, com vestígios apreciáveis de blocos romanos ou visigodos, corre imediatamente pela Alcárcova de Cima, parte visível e parte oculta pelo casario, terminando no sítio onde se abria a PORTA DA PRAÇA GRANDE ou da SELARIA(?), que foi rota no ano de 1530, com licença de D. João III, pela demolição da torre do lado setentrional que ameaçava ruína. Correndo parelha existe a outra torre, que é de secção pentagonal (irregular), com andares e completamente liberta na face da Rua 5 de Outubro. A frontaria do ocidente, parcial e modernamente oculta por casebres parasitários, defendia o pontão da barbacã, assente sobre arco redondo de granito facetado, do profundo fosso, que se descobriu no ano de 1953, quando da demolição da Agência dos Grandes Armazéns do Chiado e abertura dos alicerces para o Montepio Geral. O mesmo arco, de aduelas numeradas, guarda-se na Mata do Jardim Público, com destino a oportuna reconstituição. A torre, formada por grosso aparelho lavrado, tem as características da sua congénere da Rua Nova e deve ser coetânea: presentemente está rematada com grades de tijoleiras, ao gosto antigo. Nos meados do séc. XV este torreão e o que se apeou a conselho de Francisco de Arruda, eram designados nos documentos municipais como do Anjo e do Caroucho. A terceira porta da cerca velha - a PORTA DE MOURA - , é designação remota assinalada já no reinado de D. Dinis, porquanto no ano de 1267 foi aforada uma habitação a Martim Fernandes sob a ponte desta carcova (Alcárcova). Rota em época antiga mas indeterminada, conservou as duas torres que a flanqueavam e que, através dos tempos foram assinaladas pelas doações que delas fez a coroa. D. Afonso V, em 1453, concedeu ao Conde de Arraiolos uma torre mocha à Porta de Moura para nela fazer uma câmara e eirado: onze anos depois, o infante D. João, tio do monarca, obteve para Gonçalo Anes, bacharel da Sé e seu capelão, outra torre mocha com pedaço de muro no mesmo lugar e para idêntico fim. O torreão da banda meridional (casa Soure), fazia parte em 1555 da moradia do provedor da Misericórdia, Cristovão Nunes, lente do Colégio Real e Censor da Universidade de Coimbra; mais tarde, no seu âmago térreo se abriu a capelinha de S. Manços pela piedade do cidadão Baltazar Vieira, que a posteridade galardoou com o anexim de Racha Torres. Sobranceiro e paralelo fica o cubelo da airosa torrinha de planta circular e cone terminal, angular, com seu terraço de frestas cruciformes feito na época do donatário D. Fernão Martins Mascarenhas, capitão de ginetes de D. João II e D. Manuel e que, no ano de 1597 foi transformado no corpo do segundo andar em oratório de D. Guiomar da Silveira, ascendente dos Silveiras Meneses que alienaram a casa no séc. XIX em benefício do 1.° Conde da Serra da Tourega. Os torreões, construídos de grossa alvenaria reforçada com aparelho granítico, não parecem obra muito antiga e será temerário recuá-los além dos sécs. IX-X; é provável a sua factura mourisca que, como se sabe, nem sempre era muito cuidada nos trabalhos militares. 

De melhor execução, mais antigo e de blocos regulares, é o troço de muralha contíguo onde se apoia a casa Soure, ultimamente limpo de grossas camadas de reboco e onde se descobriu, embebido numa parede, um cipo romano marmóreo, do séc. III-IV, assim como o pano interligado que caía sobre a quadrela da barbacã, com seus robustos silhares siglados, cristãos da alta Idade Média Portuguesa. Este corpo é do séc. XII. A quarta e última porta do muro, provavelmente chamada do SOL, presume-se que se rasgava entre a torre Mouchinha (demolida) e no local, sensivelmente, onde os freires de S. Bento edificaram, no séc. XII, a albergaria e capela de S. Miguel do Castelo. CERCA NOVA O segundo plano defensivo da cidade teve início, ao que geralmente se admite, no reinado de D. Afonso IV, soberano que durante muitos anos residiu em Évora e donde partiu com o exército auxiliar do genro Afonso XI de Castela, que desbaratou os invasores muçulmanos na Batalha do Salado (Outubro de 1340). O ano de 1352 como o da fundação do muro carece de confirmação documental, mas é facto corroborado pela chancelaria de D. Pedro I, entre 1365 e 1368, de que os trabalhos da muralha, cava e barbacã prosseguiam ininterruptamente com o auxílio da Câmara, do clero, nobreza e povo, o qual era constrangido por adua. Em tempos de D. Fernando e D. João I a vultuosa obra entrou na fase mais intensa de actividade e achando-se algumas torres e portas arruinadas por falta de acabamento, outros lanços apenas desenhados e abertos, este último príncipe aplicou violenta contribuição aos mouros e judeus da cidade destinada ao seu reparo e conclusão, assim como autorizou que das rendas do Concelho, que orçavam pelos 30 000 reais brancos, cerca de metade se aplicassem nos mesmos trabalhos. 

O instrumento da determinação régia somente foi outorgado no ano de 1436, já no governo de D. Duarte, mas cinco anos depois nas Cortes de Torres Vedras, na regência do Infante D. Pedro, os procuradores da cidade obtiveram nas respectivas capitulações o importante subsídio de 2 000 rs. para o mesmo fim. O circuito muralhado e os arrabaldes definidos deviam estar completos e na forma que chegaram ao período no reinado de D. Afonso V, por volta da década de 1440, porque em 1449 já el-rei autorizava que se aplicasse a quase totalidade das verbas atribuídas para os muros, em reparação de pontes e outros benefícios públicos da Comarca. Todavia, durante muito tempo e até ao reinado de D. Sebastião, a rubrica de conservação dos muros e barbacã subsistiu, inalterável, como responsabilidade municipal. Nas turbações político-dinásticas de 1580 D. Diogo de Meneses, capitão general da província foi incumbido pelo Conselho da Regência de inspeccionar as fortificações de Évora e do seu reparo, facto que se verificou com certa urgência sob direcção do fidalgo ex-vereador Pero Gonçalves de Camões e sacrifício do povo que nelas trabalhou alguns meses. Os mercadores eborenses foram obrigados a fornecer pólvora, chumbo e morrões para a guarnição militar. Pela Restauração de 1640 o Conselho de Guerra da Coroa ordenou a vistoria das defesas da cidade pelos engenheiros franceses Charles Lassart e Jean Gillot e ulteriormente pelo tenente-general Nicolau de Langres, os quais foram da opinião de que o circuito medieval não oferecia condições para resistência de um assédio em forma, por motivo da sua impossibilidade de instalação de artilharia e a fragilidade dos muros perante os novos métodos de campanha, que os tornava francamente vulneráveis. Nas subsequentes obras de fortificação, grande parte da barbacã, algumas portas e as cavas foram então eliminadas, muito embora determinados lanços da muralha, então robustecidos, continuassem a servir na função original numa planta de estacaria e entradas cobertas devidamente protegidas pelos baluartes destacados. 

Constava a cerca nova de um circuito irregular rombóide de 3 452 passos, com dez portas e alguns postigos, protegida por c.ª de 40 torres de diferentes secções, envolvida regularmente pela barbacã e sendo toda coroada por ameias rectangulares, que foram, na centúria seiscentista tapadas, mas conservando as torneiras para melhor protecção dos defensores. A muralha, trabalho grosseiro de alvenaria de notória fragilidade, com cunhais de granito aparelhado, acusando as diferenças construtivas, é inferior tanto no aparato como na robustez às obras similares das cidadelas alentejanas de Vila Viçosa, Alandroal, Estremoz e Monsaraz, todas elas ligeiramente anteriores ou coevas, dos reinados de D. Dinis a D. Fernando. ROTEIRO dos lanços subsistentes. - Os corpos mais importantes e representativos ficam na banda ocidental, situados entre as Portas da Lagoa e do Raimundo e foram ultimamente beneficiados pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. PORTA DA LAGOA Está encravada na reprega do muro voltado ao lado sul, sotoposta a seteiras obstruídas e é formada por arco de granito de meio ponto com aduelas arredondadas e ábacos emoldurados, muito salientes. Encontra-se meio enterrada pelas terras adventícias do fosso. Obra dos fins do séc. XV foi sacrificada logo na centúria imediata e feita outra entrada pública, de maiores proporções com frontaria voltada ao Norte, de que não existem vestígios e se perdeu por demolição no ano de 1845. Esteve ornamentada com pinturas históricas e religiosas, a fresco, feitas no ano de 1619, quando da entrada triunfal de Filipe III, e ainda em 1699, durante a recepção prestada no local à Rainha de Inglaterra, D. Catarina de Bragança. Algumas oficinas e o pátio da Lavagem do Convento do Calvário estão protegidos por um troço da muralha com alentado botaréu de alvenaria; aqui se levanta a poderosa torre quadrangular de defesa da Porta da Lagoa, que D. Sebastião cedeu à comunidade para miradouro e recreio das freiras, em 28 de Fevereiro de 1571. Muito atingida pela artilharia nos cercos militares de 1663, sofreu uma vultuosa reparação no ano de 1696, data da actual cobertura de quatro águas e das grilhagens de tijolo. 

O pavilhão superior está a cavaleiro da torre trecentista, na qual são visíveis, embebidas na alvenaria, as ameias primitivas. Conserva as poternas góticas de movimento das sentinelas, entre a barbacã e as cavas. A quadrela imediata, sita a menos de cem metros, foi refeita na quase totalidade em 1945 porquanto ameaçava ruína; entre ela e o cubelo imediato, que somente conserva a estrutura granítica na altura de quatro metros, existe o POSTIGO DOS PENEDOS (1), comunicação de arco redondo, chanfrado, de pedra, aberto no ano de 1645 para utilidade dos defensores da praça e de ligação entre esta e o Forte dos Penedos, sobranceiro (demolido). Após rotura do muro mas quase ligado, fica o corpo onde o cavaleiro Francisco de Mendanha fundou, a consentimento de D. Manuel no ano de 1508 o seu paço, do qual subsiste encavalitado sobre outra meia torre medieval, com portada de arco gótico, para o fosso, uma dependência quinhentista muito maltratada. Estas casas passaram, no séc. XVII, aos fidalgos Miranda Henriques, descendentes do caçador-mor de D. João III, Jorge Henriques. PORTA DE ALCONCHEL Era das principais da cidade e por ela se faziam, normalmente, as entradas públicas e solenes dos reis, arcebispos e outras personagens de algo. Daqui rompia a estrada de Lisboa. Por aquele motivo a sua grande torre recebeu a designação de Homenagem. Já existia no ano de 1402. No dealbar desta centúria a Câmara autorizou a feitura sobre o arco de uma capelinha dedicada a N.ª S.ª da Ajuda, que esteve adornada de pinturas a fresco e se perdeu por demolição no ano de 1867. 

No alçado exterior, aberto no roço de alvenaria existiu, também, um nicho de S. Sebastião construído segundo empreitada dada pelo Conde de Atalaia, governador das armas da província em 1704, aos mestres pedreiros Manuel da Silva e José Moreira. Escapos do camartelo subsistiram a quadrela da banda norte, muito mutilada e que dava acesso ao adarve e escada de ligação com as casas de Francisco de Mendanha (Outubro de 1518), liberta em 1961 das excrescências utilitárias, e a torre quadrada a que estão ligados os dramáticos episódios históricos das invasões espanhola e francesa de 1663 e 1808, respectivamente. Obra notável de arquitectura militar, talvez da época fernandina, com 20 metros de altura e coroa de ameias restauradas, serviu de prisão de Estado até 1846, com guarnição privativa. Nela estiveram encarcerados os principais responsáveis da matança dos cristãos novos, em Lisboa (Abril de 1506), os domínicos João Mocho e Bernardo Aragonês, e o bispo de Çafim D. João Subtil, à ordem de D. João III, em Janeiro de 1524. A torre conserva na frontaria do campo a pedra de armas de Portugal, marmórea, da época trecentista, gótica, de cinco escudetes carregados de 10 besantes com bordadura de igual número de castelos: neste ponto esteve revestida com pomposo paquife de estuques policromos, destruídos na altura do restauro da muralha em 1946. É maciça até meia altura e construída de grossa alvenaria e cunhais graníticos. A prisão, vasta sala de planta rectangular, sita no corpo alto, tem portado gótico de granito e seteira. Outra dependência superior, da guarda, mantém o alçapão dos prisioneiros. 

O lanço imediato da cerca está completo e revestido de merlões na quase totalidade refeitos na década de 1940-50; curioso torreão cilíndrico, com terraço, igualmente arranjado na mesma altura pelos Monumentos Nacionais, estabelecia seus fogos com a desaparecida torre da PORTA DO RAIMUNDO, que segue. Esta entrada, demolida cerca de 1870 à ordem do Presidente do Município, já existia no ano de 1408. Servia, principalmente, a horta del-rei e o Hospital dos gafos de S. Lázaro. Nos terrenos sobranceiros existiu a ermida de St. André, arrasada no período dos assédios da cidade, em 1663. No espaço do arco fez na década de 1880-90 a Junta Distrital de Évora um arranjo pseudo-artístico em cantaria, que subsiste, composto por duas torrinhas octogonais rematadas com ameias de fantasia, encostadas a paramento de pilastras almofadadas. O muro prossegue, agora mutilado, na Mata do Jardim Público, onde são visíveis três torreões e um postigo, em zona que delimitava a horta da casa real e a cerca do Convento de S. Francisco. Os dois primeiros, de planta circular, estão a uma distância menor de tiro de besta e parecem de construção já quatrocentista. Um está decepado e o mais alto, maciço, com serventia de miradouro do Quartel de Artilharia n.° 3, é atalaia de certo volume arquitectónico e ficava no ponto mais alto desta face da muralha. O troço seguinte foi roto no séc. XVII, mas reaparece em alvenaria regular até atingir o citado postigo, que servia para despejos da horta do paço real e fora aberto sob licença de D. João II dada em 19 de Dezembro de 1488. De planta quadrangular é a torre da embocadura do Passeio Municipal, trecentista, que em 1866 o cenógrafo italiano Cinatti cortinou de ameias de fantasia ao gosto romântico e onde encaixou, em parte falsa e parte autêntica as belas janelas e portais geminados, mudejares, do destruído palácio dos Condes de Vimioso, criando as pitorescas ruínas fingidas. A muralha protectora do pavilhão manuelino do Paço Real de S. Francisco (Galeria das Damas), que também serviu de Trem de guerra no séc. XVII, com suas respectivas quadrelas, desapareceu na 1.ª metade do séc. XIX. PORTA DO ROSSIO Antiga como as suas congéneres, foi das primeiras a ser sacrificada nos planos defensivos da Guerra da Restauração, pois ficou dentro do baluarte mais tarde chamado do Conde de Lippe e consequentemente muito afogada entre terraplenos. 

Desconhecemos, porém, se desapareceu nessa altura ou se foi arrasada em 1827 quando das primeiras grandes obras de nivelamento do Rossio de S. Brás e artérias adjacentes. O arco monumental que chegou à segunda metade de novecentos e se perdeu quando do desafrontamento do Palácio Barahona, era um notável exemplar de arquitectura militar seiscentista com empena clássica ornada de lavores bélicos e entrada triunfal apilastrada, do tipo das portas da cidadela de Estremoz. No seu terreiro se deu a rendição das forças combinadas hispano-italo-alemãs do comando do general Conde de Sartirana, ao glorioso D. Sancho Manuel, Conde de Vila Flor, chefe dos exércitos portugueses, em 24 de Junho de 1663. O lanço seguinte, que corria em terrenos actualmente aproveitados pelos jardins e celeiros da casa Barahona (sede da Companhia de Seguros "A Pátria"), desapareceu até aos fundamentos. Salvas estão as torres quadrangulares e o pano muralhado encostados às casas apalaçadas que c.ª de 1548 D. Afonso de Castelo Branco, ascendente dos Condes de Sabugal e meirinho-mor de D. João III, fundou com licença do Senado (Batalhão n.° 2 da Guarda Fiscal). Conserva o caminho da ronda, sobre o adarve e no torreão do lado do nascente existe o oratório quinhentista, do estilo da renascença, com rodapé de azulejos de esmalte verde e branco, da fabricação portuguesa, coevos. Grande parte deste corpo encontra-se completamente rebocado e caiado de branco, mas em bom estado de conservação. 

Ligado aos muros do castelo manuelino reaparece outro lanço da cerca tércio-quatrocentista, com vestígios de ameias e seteiras, que defendia a cerca do extinto Recolhimento de N.ª S.ª da Piedade. PORTA DA MESQUITA O arco primitivo, granítico, semelhante e naturalmente coetâneo do da Lagoa (sécs. XIV-XV), de volta redonda com chanfraduras, subsiste esmagado sob a capelinha de N.ª S.ª do Amparo, que os crentes fundaram, a consentimento da Câmara, nos anos de 1585-87, a qual no 2.° terço do séc. XVIII foi integrada no santuário do Senhor Jesus da Pobreza. O alienamento da porta verificou-se na segunda metade de seiscentos, quando da construção do baluarte do Aça, abrindo-se então outra saída que beneficiava directamente o castelo e era protegida por duas torres da cintura medieval, uma das quais estava artilhada em 1651. Esta PORTA DA RAMPA, traçada na garganta da cortina da ronda militar desapareceu, também, nos meados do século passado. Outro trecho da muralha, com recanto de pedra aparelhada, escapou ao camartelo demolidor no lado nascente: delimitava o cardai do Hospital da Santa Casa da Misericórdia e não tem valor artístico. Uma das enfermarias está construída sobre paramento de cantaria. Interrompido de seguida, o muro reaparece completo na zona do necrotério e capela do mesmo estabelecimento hospitalar, ao lado da qual se construiu em 1874 (data inscrita em placa de mármore), alta chaminé do forno crematório. Depois de formar um recanto, prossegue sem rotura passante de cem metros e bem visível, até ao buraco feito no lugar onde existiu a PORTA DE MENDO ESTEVENS Este topónimo já era conhecido nos fins do séc. XV, época provável da feitura do respectivo arco que, com a sua quadrela defensiva veio a terra nas derradeiras décadas de novecentos. Imediatemente continua a cerca pelos quintais do Matadouro Municipal num lanço incaracterístico até ligar ao baluarte seiscentista que recebeu a designação de N.ª S.ª de Machede por defender a porta do mesmo nome e que também se chamou da Natividade. PORTA DE MACHEDE Era esta entrada uma das principais da circunferência: teve sobrepujante uma capela dedicada à Virgem, a qual pouco depois de 1490 fora erecta pelo Município em lisonja do matrimónio do príncipe herdeiro D. Afonso, filho de D. João II com D. Isabel de Castela. Tanto o templete como a porta militar sofreram através dos tempos alterações substanciais que lhe modificaram a fisionomia em 1581, 1703 e 1771. A capela da última ampliação, feita a expensas do cónego prebendado António de Landim Sande, existe profanada, mas o arco foi apeado no último quartel do séc. XIX sem deixar quaisquer vestígios. Três torres de pedra a defendiam a espaços curtos, uma das quais ainda subsistia no ano de 1716. Os alicerces do cubelo de suporte dos chãos actuais do Ginásio do Liceu Nacional de Évora, em cantaria aparelhada, localizaram-se no ano de 1962, quando da reedificação do campo de jogos do mesmo estabelecimento de ensino. 

O corpo da muralha tércio-quatrocentista que do cunhal do pavilhão Norte do antigo Colégio do Espírito Santo inflectia coleante, por caminho íngreme e pedregoso até à PORTA DA TRAIÇÃO, foi derrubado com licença régia e a instâncias do Cardeal Infante D. Henrique pouco depois de 1560, em empreitadas dirigidas pelos arquitectos Manuel Pires e Afonso Álvares. Do lanço monumental da muralha protectora das casas dos Condes de Basto e dos Duques de Cadaval já falamos. Ligado aos domínios desta moradia e englobando a horta respectiva reaparece, completo, com suas repregas mas sem torreões, outro longo bocado despojado, também, de ameias mas conservando o adarve. PORTA DO MOINHO DE VENTO Trecho dos mais representativos, de merlões refeitos e restaurados pelos Monumentos Nacionais em 1956-57, tem o arco militar da reforma de 1517, feito a instâncias do Conde de Tentugal, D. Rodrigo de Melo, que mereceu o patrocínio de D. Manuel. É obra típica do seu tempo, com arco redondo de granito chanfrado, talvez feito por desenho do mestre Diogo de Arruda, que na época dirigia a reforma dos castelos e muros de Portei, Mourão, Terena e Monsaraz. A porta primitiva é citada em documentos a partir de 1437. Na Estrada de Circunvalação e após os terrenos da Central Eléctrica, que ocupam os fossos e cava da barbacã, levanta-se uma meia torre de planta quadrangular, empedrada, rota na actualidade e o muro continua circundando as Alcaçarias com outro sólido cubelo sobranceiro às ruínas da ermida de S. Bartolomeu. A um tiro de besta e amparada por reprega granítica, hoje parcialmente encoberta pelo casario, subsiste a PORTA DE AVIS Das mais antigas do perímetro medieval, já existia no ano de 1381. Estando muito maltratada no reinado de D. João III, quando da entrada pública da Rainha D. Catarina de Áustria, a Câmara ordenou a sua reparação, levantando uma finta especial entre os mercadores, facto que o monarca, em 1525 agradeceu por carta registada no Tombo Municipal. 

No vão do arco primitivo existiu, embebido em edícula suportada por cães de pedra, um fresco representando a Fuga para o Egipto. Sobrepujante, c.ª de 1482, segundo a tradição, os povos fundaram a ermida de N.ª S.ª do Ó, que comummente ao portal sofreram danos irreparáveis provocados pelos bombardeamentos da cidade durante os assédios de Maio-Junho de 1663. Data deste período a reforma da velha porta e o seu alienamento como função militar, porquanto os engenheiros construtores das fortificações modernas abriram outra comunicação voltada ao lado setentrional e ordenaram o entaipe da primitiva, que existe, todavia, na forma quinhentista, de arco abatido envolvido por grossos blocos de granito aparelhado. No seu âmago se rasgou vulgar portada de serviço de uma locanda de vinhos. Completamente reformada no ano de 1804, a Porta de Avis mantém as características militares do setecentismo, com duplo arco e túnel pouco profundo, sendo o arco exterior redondo, de granito chanfrado metido em pórtico apilastrado e de arquitrave, com tímpano triangular ornamentado por fogaréu de relevo, tudo trabalho de alvenaria almofadada, e o frontispício composto por lápida marmórea onde se lê esta legenda: NOVA PORTA DE AVIZ ABERTA NO ANNO DA ESTERILIDADE DE 1804 SENDO REGENTE DO REINO O PRÍNCIPE D. JOÃO PAI DE SEVS VASSALLOS PIEDOSO FILHO DE D.MARIAI OS CIDADÃOS PVZERÃO AQVI AOS VINDOVROS ESTA MEMÓRIA Alta torre de planta quadrangular se ergue a escassos metros na banda SUL-OESTE: defendia a entrada da cidade e nela se rasga um portal gótico de acesso à cava da barbacã, tapado na actualidade. 

O lanço seguinte, entre as Portas de Avis e da Lagoa, passante de trezentos metros de extensão, com suas repregas, cunhais aparelhados, caminho da ronda utilizável, embora parcialmente obstruído entre casario moderno e tapumes utilitários, está completo e termina aproximadamente no cubelo de protecção desta última porta que, do mesmo modo, tem comunicação primitiva da barbacã, em lanceia gótica, de pedra. CASTELO MANUELINO - QUARTEL DE DRAGÕES Foi fundado no ano de 1518 pelo rei D. Manuel sob traça arquitectónica do mestre das obras do Alentejo, Diogo de Arruda, que nele assistiu até 1525, data documental do seu acabamento. As duas cartas de quitação conhecidas provam que nos trabalhos se aplicaram 954 213 reais das rendas da casa real, da casa da Mina e do almoxarifado da cidade e que foram seus vedores os cavaleiros Jorge de Paiva e Pero Álvares de Faria. Na criação do Celeiro Comum, no reinado de D. Sebastião, o edifício passou, simultaneamente, a depósito do novo estabelecimento agrícola, pelo que sofreu beneficiações importantes nos anos de 1577-79, 1580-82 e 1639-40, dirigidas pelos oficiais de pedraria Mateus Neto, mestre do Cano da Água da Prata, Brás Godinho, Francisco Gil e Luís Gomes. D. João V instituiu em Évora, por alvará de 8 de Janeiro de 1736, o Regimento de Dragões, sob comando do Conde de Soure, sendo governador das armas da província o Conde de Atalaia e logo se pensou no castelo novo para instalação da unidade. O capitão engenheiro Miguel Luís Jacob foi autor do projecto de adaptação que, com ligeiras modificações sugeridas no reinado de D. José I previa o aproveitamento de grande parte da fortaleza manuelina, plano que se aplicou integralmente. Em 1759 as obras das escadas principais corriam com celeridade sob direcção do técnico responsável, sendo comandante do regimento o coronel Conde de Lumiares. A guerra contra Espanha provocou a suspensão dos trabalhos, que recomeçaram, todavia, ainda em tempos do Marechal Conde de Lippe Buckburg. Em 1772 já as cavalariças do edifício se encontravam prontas. 

No ano de 1795 o tenente-coronel de engenharia Tomaz de Vila Nova e Sequeira recebeu incumbência da corte de D. Maria I para terminar a vultuosa construção, pelo que a tesouraria geral das tropas da província abriu um elevado crédito para o efeito. Oficialmente esta empreitada terminou em 1803, mas os acabamentos interiores prosseguiram até 1807. O aquartelamento, construído expressamente para os dragões da cidade, que depois da reforma de Beresford passou a ter o número 5 de Cavalaria, foi ocupado até Novembro de 1940 por esta unidade. Alojava comodamente, além da oficialidade, 350 praças e 250 cavalos. Actualmente é sede do Regimento de Infantaria n.° 16. O edifício é de planta quadrada rematado por quatro imponentes torres de alvenaria angularmente revestidas de pilastras de grandes lages almofadadas, de granito. O aspecto de conjunto mantém o plano directriz do renascimento, modelado no sistema regular da fortaleza à italiana, quiçá um dos primeiros tipos do género introduzido nos país nos alvores do quinhentismo. A frontaria, voltada ao lado Setentrional, tem proporções e linhas majestosas, com corpo central recuado assente em oito arcadas falsas de vãos redondos e janelas semicirculares, ornatadas no fecho, enobrecido por pórtico apilastrado de cantaria trabalhada. Sobrepujante, vultuoso frontão circular composto pelas armas reais de Portugal, coroadas e de alto relevo de mármore branco de Estremoz, com paquife e trofeus bélicos. Aberturas de três tipos dos estilos D. José e D. Maria I, correspondentes aos pavimentos do grandioso edifício, acompanham todas as fachadas, com exclusão dos corpos baixos dos dois torreões, também quadrados, do lado sul, muito mais robustos, de aparelho quinhentista, que repousam numa fortíssima sapata de plano inclinado ornamentada pelo cordão da época manuelina. São os restos subsistentes do castelo novo de Diogo de Arruda, com as torneiras coetâneas. 

Da mesma obra existe todo o paramento da torre oriental, com várias fiadas de blocos graníticos de cerca de quatro metros de altura, assim como parte dos alçados laterais da construção, servindo de paredes mestras das cavalariças. No prospecto do andar principal (que é todo envolvido por friso de pedra), sobranceiro ao Batalhão da Guarda Fiscal, aberto na alvenaria, vê-se a data de 1803 sotoposta a uma cruz. A entrada principal, em rotunda de planta ovóide, ligada a corredor de abóbada de berço e de arcos apilastrados, de aduelas graníticas, dá acesso às salas de armas, vastas dependências rectangulares cobertas por tectos de meio canhão, iluminadas directamente por janelas da frente Norte. Cómodas escadas destinadas aos oficiais, de degraus de pedra, comunicam aos corpos nobres do quartel e corredores que em ângulos rectos abraçam todo o imóvel. A parada, de planta quadrada, típica construção da 2.ª metade do séc. XVIII, tem as quatro fachadas assentes em arcada falsa de sete vãos de volta redonda por banda, com molduras e pilastras singelas e dois andares decorados por janelas de sacada e de peito, com ombreiras e dintéis de granito regional. Quatro escadas cocleadas, de serviço das praças rompem do pátio, na nascença de arcos idênticos, com acesso ao labirinto de corredores e casernas: conservam rodapé de azulejos azuis e brancos, geométricos e de fabricação industrial dos começos de oitocentos. As escadas da face norte, rompentes aos telhados terminam em torres cilíndricas com fogaréus; a fachada meridional está composta por nicho de mármore branco e azul, na correspondência do segundo andar, agora preenchido por uma moderna efígie do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, padroeiro da arma de infantaria (2). Sobrepujante ao beirado, campanário de alvenaria terminado por urna ornamental, sem sino. O relógio sotoposto é posterior. Vasta sala de planta quadrangular e cobertura cupuliforme aberta em lanternim circular no corpo interior e hexagonal no externo, de remate piriforme, compõe o eixo do 2.° piso. Era a sala do Conselho Regimental. 

Está decorada na abóbada por tabelas neoclássicas, murais, de temas bélicos e triunfais, envolvidas por ornatos, sanefas e grinaldas presas e querubins. Nas cimalhas e nos alçados vislumbram-se composições semelhantes, que a falta de sensibilidade e respeito pela criação artística ocultou sob recentes camadas de cal. É obra anónima de c.ª 1800. O Picadeiro, erguido nos terrenos do baluarte do castelo do lado sul-ocidente, foi principiado em 1808: a Guerra Peninsular e as longas questões político-sociais do liberalismo provocaram a interrupção dos trabalhos, dos quais apenas se erguiam as paredes. No biénio de 1874-76 o Ministério do Exército determinou o seu acabamento. Tem as seguintes dimensões interiores: comprimento, 40,70. Largura, 17,80 m. FORTIFICAÇÕES MODERNAS Referenciadas acima as notas históricas propriamente ditas, passamos a descrever os restos subsistentes. FORTE DE SANTO ANTÓNIO (Imóvel de Interesse Público) Executado sob responsabilidade técnica do general de artilharia Agostinho de Andrade Freire, governador da cidade, já tinha guarnição privativa no ano de 1669 sob comando do mestre de campo D. João Ferreira, mas ainda se encontrava imperfeito. 

A sua conclusão verificou-se na década seguinte. Teve um primeiro traçado da responsabilidade do eng. Nicolau de Langres, com modificações sugeridas pelo Conde de Schomberg. Ocupado sem resistência pelo príncipe invasor D. Juan de Áustria, foi artilhado e muito melhorado pelo general Marquês de Almenara, mas caiu nas mãos do Conde de Vila Flor em golpe de surpresa na madrugada de 22 de Junho de 1663 por uma coluna mista de 400 homens escolhidos dos regimentos ingleses e portugueses de James Apsiey e D. Luís de Azambuja. Obra clássica do seu género, é constituído por um quadrado de quatro baluartes de magistral muito reforçada, com presídio, claustro e parada anexa ao extinto convento de capuchos da Piedade. Conserva a porta primitiva de campanha, voltada ao lado setentrional, com pontão, algumas guaritas angulares, de tijolo, e parte do fosso descoberto. Património do Arcebispado de Évora, funciona nele o Colégio Nuno Álvares. BALUARTES DO PRÍNCIPE E DO CONDE DE LIPPE Ligados por cortina abaluartada de redentes e escarpas protectoras das Portas do Raimundo e do Rossio, foram delineados pelo tenente general engenheiro Nicolau de Langres, verificando-se o lançamento da primeira pedra em 1651 sob assistência do príncipe herdeiro D. Teodósio de Bragança, a quem a fortificação era dedicada. Estão relativamente bem conservados e trata-se do trecho mais sólido e imponente de toda a obra militar seiscentista. Reforçados angularmente por robustos cunhais de granito aparelhado, têm guaritas de base cónica e corpo cilíndrico adornado de pilastras e cúpula pregueada, com remate piriforme. Longo friso boleado, contínuo, de pedra, acompanha todo o chão do parapeito das canhoneiras, sob o qual se rasgam algumas poternas de despejos, assim como o velho portado rectangular para o polígono de tiro, construído de fortes blocos graníticos, assimétricos, do tipo rústico, que tinha início no fosso, entre terraplenos e subterrâneos, comunicante com a horta do Paço Real de S. Francisco. O arco interno é redondo. 

Os baluartes estão actualmente aproveitados pela Mata e Jardim Público, que foram delineados pelo cenógrafo italiano Cinatti entre 1866-81, e as cavas servindo de Parque Infantil Dr. Almeida Margiochi, inaugurado no dia 27 de Maio de 1964. BALUARTE DO CASTELO (também chamado do Picadeiro) Defendia a cidadela e o palácio dos Condes de Sabugal e o seu tipo construtivo acompanha a obra anterior, tanto no corte de materiais como nos guarnecimentos e guaritas. Em 1663 apenas tinha o movimento de terras concentradas. Pertence ao plano do eng. D. Diogo Pardo de Osório, discípulo do cosmógrafo-mor Luís Serrão Pimentel e estava pronto no ano de 1680. BALUARTE DO ASSA Também de alvenaria, de cinco ângulos, está muito aterrado, falho de guaritas e é coetâneo dos anteriores. Defendia a cerca do Hospital da Misericórdia e nele existiu o primeiro cemitério público da cidade, entre 1836-39. BALUARTE DE N.ª S.ª DE MACHEDE Fica nas bandas oriente-norte, com cinco flancos acentuadamente afogados pelos levantamentos de terras modernas, que lhe obstruíram os fossos. Construído em alvenaria barata e de taipa, é dos mais antigos da fortificação, pois teve início na década de 1640-50, logo após a vistoria dos engenheiros franceses Charles Lassart e Jean Gillot. Já em Maio de 1641, com verbas da Mesa Episcopal, outorgadas pelo are. D. João Coutinho, retido em Madrid, na sua planificação trabalhavam em adua voluntária, os clérigos, governança e povo da cidade. Encontra-se em ruínas e roto no local da demolida porta do mesmo nome: dá para a Estrada de Circunvalação e anexos do Matadouro Municipal. BALUARTE DOS APÓSTOLOS OU DE JESUS Delineado pelo tenente-general eng. Pierre de Saint-Colombe pouco depois de 1660, já estava completo no ano de 1680. Roto nos flancos e na linha bastionada que o ligava aos fortins de Machede e de S. Bartolomeu a partir de novecentos conserva, apenas, a cortina frontal numa extensão de 120 passos e parte do lanço ocidental com ângulo apilastrado, de grosso aparelho. Obra de boa traça militar tem, também, o fosso primitivo. FORTE DE S. BARTOLOMEU Trabalho de materiais pobres ou mal concebido, encontra-se em lastimoso estado de conservação. Padrasto da Porta de Avis, foi dos primeiros a ser erguido nas horas febris das visitas do rei D. João IV e do marechal D. Teodósio, seu filho: ficou totalmente arruinado durante os assédios de 1663 e apenas se restaurou depois de 1670, já integrado nos planos do eng. D. Diogo Pardo de Osório. Compõe-se de um redente de três pontas irregulares, com terras artificiais aproveitando um cômoro natural onde existia desde começos da centúria uma ermida dedicada a S. Bartolomeu, que desmoronou parcialmente no século passado. 

BIBLIOGRAFIA: Arquivo Municipal, passim; Posturas da Câmara, cap. 48; Torre do Tombo, L.° de D. Dinis, fls. 191, v.°. Chancelaria de D. Afonso V, L.° 34, fls. 175-L.º 5.° fls. 32 v. Fernão Lopes, Chronica de el-rei D. João I, cap. 45; Diogo Mendes de Vasconcelos, Livro V do Município Eborense, 1593; Luís Serrão Pimentel, Methodo Lusitanico de Desenhar as Fortificaçoens das Praças Regulares, etc. 1680; Cristovão Ayres de Magalhães Sepúlveda, História do Exército Português, Vol. 1.°, pp. 434-438; Gabriel Pereira, Documentos Históricos da Cidade de Évora, Vol. I, p. 102 e Estudos Eborenses, fas. Os assédios de Évora; Sousa Viterbo, Diccionário dos Arquitectos Portugueses, etc., Vol. 1.° pps. 307-308 e 515, Vol. 3. pgs. 11-18; Anselmo Braancamp Freire, Archivo Histórico Português, Cartas de quitação del-rei D. Manuel, Vol. II, p. 34; Gastão de Mello de Matos, Nicolau de Langres e a sua obra em Portugal; Túlio Espanca, Cadernos de História e Arte Eborense, in Fortificações e Alcaidarias de Évora, 1945 e História das campanhas do Alentejo, cód. 110, 1-7, da Biblioteca Pública de Évora, publicado na Cidade de Évora, n.° 29-30, pp. 459-65. ADENDA No Inverno de 1966, em virtude dos rigores da estação e das chuvadas persistentes que minaram as terras artificiais dos Fortes de Santo António e de S. Bartolomeu, obras seiscentistas da época da Guerra da Restauração, o primeiro sofreu, em Janeiro, um rombo no flanco do baluarte meridional, que atingiu a coroa numa extensão de cerca de 10 metros, e o segundo, nos fins de Fevereiro, viu derruir uma frente de 20 metros, de alto a baixo, na cortina da banda norte. Esta construção militar está totalmente descaracterizada pelos sucessivos desabamentos e reparações de emergência, sem planos estudados ou aproveitamento de materiais apropriados. (1) Mais vulgarmente conhecido como Buraco de Cogulos. (2) A padroeira antiga da unidade de cavalaria era N.ª S.ª- da Conceição. A imagem, de madeira estofada, setecentista, encontra-se actualmente na capela do seu onomástico, na Quinta do Escrivão da Câmara, património de D. Domingos de Sousa Coutinho, Marquês do Funchal. 

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