domingo, 10 de setembro de 2017

Convento de Nossa Senhora dos Remédios (Cemitério Público Municipal)


A fundação da casa monástica, na Ordem Reformada Carmelitana (os conhecidos padres descalços ou marianos), teve suas origens em 1594 sob auspícios do arcebispo D. Teotónio de Bragança no fundo da Rua do Raimundo, em casas e albergaria da Senhora dos Remédios, que posteriormente se transformaram na ermida de N.ª S.ª das Brotas. Dificuldades de ordem vária obrigaram a nascente comunidade a procurar novo sítio, o que se conseguiu pouco tempo depois por doações e compra de bom trato de terrenos em local sobranceiro às Portas de Alconchel. Iniciadas as obras conventuais com licença da Câmara de Évora, a transferência do núcleo freirático dirigido pelo prior fr. Tomás de S. Cirilo verificou-se no ano de 1606, tendo o antístite D. Alexandre de Bragança, acompanhado por membros do Cabido, deputações religiosas e delegados do poder civil assistido à cerimónia inaugural. Todavia, a sagração da igreja teve efeito, somente, em 1614, já sob beneplácito do novo prelado da diocese, D. José de Melo, que ao edifício outorgou a dignidade de padroado, segundo escritura pública lavrada no cartório do tabelião de notas Manuel Rodrigues, em 21 de Junho de 1625. Intervenção generosa nos acabamentos do templo coube ao fidalgo eborense Álvaro de Miranda Henriques, habitador vizinho do primitivo paço dos Mendanhas, que para o efeito concedeu, no ano de 1613, a importante esmola de duzentos mil reis. Ao edifício andam ligados eventos históricos de notória projecção nacional: a sua situação estratégica originou que nele se desenrolasse parte da luta travada pela posse da cidade, em Maio de 1663, entre os exércitos do príncipe D. João de Áustria e as forças do presídio comandadas pelo mestre de campo Manuel de Miranda Henriques. 

No dia 16 foi o convento tomado de assalto pela infantaria castelhana, que nele aprisionou a guarnição composta de 30 espingardeiros portugueses. Do campanário, estabeleceram os arcabuzeiros inimigos nutrido duelo de fuzilaria com as mangas instaladas na torre de Alconchel e no cubelo circular, sobranceiro à cerca monástica e o fogo foi tão intenso, de ambas as partes, que os portugueses acusaram a sensível perda de 25 mortos e 35 feridos. Contudo, o adversário teve de abandonar a posição dos terraços e de recorrer à artilharia do Conde de Almenara, estabelecida com parque na mesma cerca. No cenóbio transcorreu parte do escandaloso incidente da Beata de Évora, em Setembro de 1792 e vulgarizado no romance histórico de António Francisco Barata, o qual fora concebido e praticado pelo prior fr. Manuel de S. Carlos e pelo religioso fr. Félix de Jesus Maria, punidos depois severamente pela devassa do Santo Oficio ordenada pelo arcebispo D. fr. Joaquim Xavier Botelho de Lima. Ainda, no dia 29 de Julho de 1808, o convento sofreu tropelias cometidas pelas tropas da divisão francesa de Loison, com saque, destruições irreparáveis de obras de arte e fuzilamento de vários frades, pois a defesa da cidade estabelecera nele alguns francos atiradores que espingardearam o inimigo durante o ataque aos seus muros. Extinto pelo decreto liberal de Joaquim António de Aguiar, na cerca se instalou, a pedido da Câmara Municipal, o Cemitério Público dos Remédios, segundo letra de 30 de Maio de 1839, confirmada em 10 de Julho do ano imediato, com a benção dos terrenos oficialmente cedidos por D. Maria II. O aspecto geral do edifício, observado da Estrada de Circunvalação, de fachada axial olhando o norte, oferece silhueta de certo volume arquitectónico, embora pesada e do severo estilo barroco. 

Mantém a estrutura seiscentista, de cunhais e empenas fortemente cintados de pedra dispostos em andares, com frestas rectangulares e telhados de quatro águas. Num destes prospectos subsiste a caixa-mostrador de um antigo relógio de horas, coberto de fortes camadas de cal de obra. Altaneiro campanário de frontão circular, com dois olhais, é composto por igual número de sinos, de bronze, sendo o velho, ornado com legenda bilingue: ILLUSTRICIMUS D. ANTONIUS SANDE EBORENS. HUSUS COLLEG BENEFACTO SPECIALIS ET MA GNIFICUS HOC CIMBAL. CONFIA RE FECIT ANNO 1787. JOZE DOMINGOS DA COSTA O FEZ EM LISBOA O outro, moderno, foi fundido em Lisboa na oficina de Luís Belas, em 1891. Pequeno pátio de aberturas gradeadas, tendo no portado central uma tabela de volutas e pináculos com o armorial do padroeiro, D. José de Melo, antecede o terreiro da igreja, cuja fachada, de frontão triangular, muito acentuado, é terminado em discos de granito, nos acrotérios. A entrada faz-se por alpendre de três arcos de volta perfeita, com aduelas de pedra, sobrepujado por ampla edícula envidraçada onde se venera a Padroeira, imagem de mármore branco penteada de tons coloridos, de grande porte e dos inícios do séc. XVII. Lateralmente, em placas de mármore, ostentam-se os armoriais, barrocos, do arcebispo protector, também do 1.° terço do seiscentismo. As portas do templo e da portaria anexa, são de boas e robustas tábuas de matazana, do Brasil, recobertas de pregaria e pingentes de latão amarelo. A nave é de planta rectangular com quatro tramos, coberta por tecto de penetrações fechado no ano de 1614 (data esgrafitada, na abóbada, em curioso florão barroco, de massa, centrando as armas carmelitas, coroadas e metidas numa elipse perolada), e cruzeiro pouco profundo, que suporta uma cúpula cega, de meia laranja. A capela-mor está decorada por opulento altar de talhas douradas, de desenho e estilo rocócó, devido aos artistas eborenses Manuel e Sebastião Abreu do Ó e concluído no segundo terço do séc. XVIII. 

A obra preenche todo o espaço do santuário, com baldaquino, trono, colunata compósita revestida de grinaldas e sanefas e frontão entrecortado. "O conjunto monumental da talha dos Remédios, uma das mais primorosas obras de arte do séc. XVIII em Portugal de tendência linear, atingiu neste lugar o auge da riqueza. Estes três retábulos, que enchem a capela-mor e o espaço do cruzeiro, obedecem à fórmula chanfrada tão popular em Évora. Os colaterais, de uma sumptuosidade extrema ostentam a peculiaridade invulgaríssima de duplos frontões, de perfil ondulante, por baixo de uma imensa sanefa, de igual estilo. No principal, onde as colunas levam delicadíssimas rosas e folhas assimétricas, a planta complica-se, mediante as ilhargas côncavas, dando efeitos leves e delicados. Por cima do arco do nicho central, onde a imagem do Cristo está teatralmente exposta, desenvolve-se a maior passagem decorativa da Escola, onde as linhas da característica cartela são repetidas em diversas camadas contra um fundo cujos ornamentos parecem lavrados em ourivesaria. O caracter desta talha e em geral de toda a talha eborense dessa época é menos plástico que linear; o movimento é directo, dominado e controlado pelas elegantes sinuosidades das sanefas e dos remates" (Robert Smith, A Talha em Portugal). Em maquineta e pedestal do mesmo estilo, venera-se a imagem da Padroeira, de roca e vestia de seda branca bordada a ouro, sotoposta a severo e trágico Jesus Crucificado, de madeira incarnada. 

Dispostas em mísulas de dois andares enobrecem o conjunto as esculturas seiscentistas, em rico estofamento dourado, de S. Simão Stock e S. João da Cruz, no corpo inferior, e, no superior, de volume maior, as de S. José e Santa Teresa de Ávila, estas contemporâneas do retábulo. Medem, as primeiras, respectivamente, de altura, 0,76 d 0,84 m. Na parede do Evangelho, existe o túmulo do prelado padroeiro, construído em mármore azul e branco, regional, segundo modelo da arte barroca, com frontão armorejado e corpo de colunas toscanas, que conserva a inscrição da época, em português vernáculo: SEPVLTVRA + DE + DOM + JOSE PH + DE + MELLO + FILHO + DO MARQVES + DE + FERREIRA + DOM + FRANCISCO + PRIMEIR O + DESTE + NOME + BISPO QVE FOI + DE + MIRANDA + ARCEBIS PO + DE + EVORA + FUNDADOR + DO + PADROADO DESTE + CO NVENTO + COM + SEIS + MISSAS QVOTODIANAS + E + TRES + OF ICIOS + CADA + ANNO + POR + SVA ALMA + DE + SEVS + PAIS + IRMÃOS PADROEIROS + SVCESSORES E + PARENTES + FALECEO + A + 2 DE + FEVEREIRO + DO + ANNO DE + 1633 Na capela-mor conservam-se três tamboretes de madeira lavrada e ornamentada, com vieiras e pernas características do reinado de D. José (meados do séc. XVIII). As duas capelas do transepto, em colaterais, revestidas de talhas semelhantes e coetâneas do presbitério, são dedicadas a S. João Baptista e a N.ª S.ª do Carmo, figurando naquela uma interessante imagem policromada, do séc. XVII, e nesta uma figura de roca e vestia de tecelagem bordada, de somenos valor artístico, assim como o célebre crucifixo da beata Leonor Rodrigues, que assenta numa peanha-relicário de metal amarelo. 

Na parede fundeira, do lado do Evangelho, em mausoléu brasonado e esquiçado com simplicidade dentro das linhas barrocas, repousam as cinzas de D. Constantino de Bragança, instituidor do Morgadio do Maranhão, da esposa e da filha, trasladadas de Estremoz em 1639. Diz a inscrição: AQVI JAZEM DOM CONSTANTINO DE BRAGANÇA FILHO DO MAR QVES DE FERREIRA, E DE DONA EV GENIA FILHA DO DUQUE DE BRA GANÇA DOM GEMES: SVA MOLHER DONA BRITES DE CASTRO, FILHA DE DOM FERNANDO DE CASTRO E DE DONA IZABEL PEREIRA, E DO NA MARIA DE CASTRO SVA FILHA. ESTES OSSOS SE TRESLADARÃO DE ES TREMOZ PÊRA ESTA SEPVULTURA, E CAPELLA-MOR, A 26 DE JVNHO DE 1639 ANNOS. Muito original, como peça de túrgida explendência, é o púlpito de entalhamento dourado, feito segundo planos dos ensambladores irmãos Abreu do ó, oficiais do mister presumivelmente naturais de Évora: é do estilo rocócó e, seguramente, o mais notável do seu tempo no Alentejo. As formas da sua caixa, inspiradas nos púlpitos de Lisboa são, porém, executadas com uma delicadeza que "condiz perfeitamente com a assimetria refinada dos ornatos, o caprichoso perfil do espaldar coberto de palmas, donde se levanta a fantasia do dossel, que lembra uma coroa dourada da Virgem". 

Divide o corpo do cruzeiro, interessante teia de balaustrada de enrolamento torso, em madeira excêntrica sobrepujada por fogaréus estilizados. A nave conserva as duas capelas laterais, da invocação de Santa Ana e de Nossa Senhora da Conceição, abertas ambas em arcos de volta inteira, muito amplos e profundos e revestidos de bons retábulos de talha de fabricação eborense. A primeira, da Epístola, possui altar de colunata colorida, de certa nobreza de linhas, executado dentro do espírito dos trabalhos dos irmãos Abreu do Ó, onde subsistem, além do Orago, conservado em elegante baldaquinete revestido de folha de oiro (imagem ainda do séc. XVII), S. José e o Menino, S. Patrício, Santa Bárbara, todas de madeira estofada e polícroma, dos sécs. XVII-XVIII, e S. Joaquim e a Virgem, de barro cozido, curioso exemplar recoberto de roupagem iluminada, que mede de alto, 84 cm. O santuário sobranceiro, protegido por alta grade de cancelos de madeira dourada, com o Sagrado Coração no tímpano, possui mais discreto altar aberto e decorado com vários relicários do estilo rocócó, centrado pela medíocre tela pintada, setecentista, da Virgem da Conceição. Inferiormente, em sarcófago da cerimónia do enterro de Cristo, subsiste uma boa e trágica escultura de Jesus, de madeira incarnada, envolvido pela pintura da Lamentação do Túmulo, ao fundo, sobre tela, interessante. 

Na composição, dos alvores do setecentismo, figuram as quatro Marias do Calvário -Virgem Maria, Maria Madalena, Maria Salomé e Maria Cleopha, rodeadas de anjos lacrimejantes. Junto do arco abatido do sub-coro, encravada na parede da Epístola, existe uma lápide de mármore, comemorativa de donativo vultuoso para as obras do edifício religioso, que diz: ÁLVARO DE MIRÃDA ENRIQVES DEU DES MOLA PERA AIUDA DE SE FAZER ESTA IG REIJA DUZENTOS MIL RES NO ANNO DE 613 O coro alto encontra-se desadornado de quaisquer obras de merecimento, mas conserva uma boa e volumosa lâmpada de metal amarelo, de suspensão, do séc. XVIII. Na parede imediata fica o arruinado órgão, de lenho policromado, do setecentismo, encabeçado por revestimento de talha dourada, do estilo rocócó, que ocupa um tramo completo da igreja. Subsistem, no templo, as seguintes pinturas antigas: Capela-mor: A Caminho do Calvário, tela da 2.ª metade do séc. XVII; Cruzeiro: Nossa Senhora dos Remédios, tábua maneirista do 1° quartel do séc. XVII. Sobrepujante ao túmulo de D. Constantino de Bragança; Cruzeiro: Descida da Cruz, tela da 2.ª metade do séc. XVII, sobre a porta de acesso ao claustrim; Nave: Aparição da Virgem a S. João da Cruz e a S. Simão Stock, tábua da escola maneirista, do séc. XVII; Nave: Apoteose de Nossa Senhora do Carmo, grande e medíocre tela do séc. XVII, que pertenceu ao trono do primitivo altar-mor; Nave: Santa Ana e a Virgem, pequena tábua dos princípios do séc. XVII; Nave: Santa Ana e Anjos, tela seiscentista; Coro: Virgem e o Menino, tela, vulgar, e Sagrada Família, tábua fragmentada, do séc. XVII, em depósito. Muito curiosa é a Sacristia dos Remédios, enriquecida pelo notável paramenteiro de cinco corpos com quinze gavetões de pau santo brasileiro e do estilo português da época de D. José I, que preenche totalmente o fundo da sala. Mede, 8,15 m. de comprido por 1,10 m. de largura, ostentando nas ferragens recortadas, de metal amarelo, águias e corações. 

Ornamenta a peça, contra a parede, sobrepujante, um altar de entalhados dourados, com portas e nichos de relicários e oratório ao centro, com a imagem do Crucificado, de vulto, em pobre factura artística, dos fins de setecentos. De bom desenho, esmalte anilado e executados em oficinas lisboetas c.ª de 1700, são os silhares de azulejos do lambris, de dois padrões distintos, com sanefas floridas e motivos de figura avulsa, inspirados estes, em modelos de Delft, mas fortemente caracterizados pelas barras naturalistas tanto ao gosto da nossa cerâmica barroca. Contígua, fica a capela sepulcral de D. João Maldonado da Gama Lobo, revestida de estuques coloridos e marmoreados, onde existem, por aproveitamento de outro lugar, mas sem merecimento artístico, as antigas imagens de madeira de S. Domingos e S. Pedro de Alcântara. A lápide, marmórea, diz o seguinte: ESTA CAPELLA HE PERP.O JAZIGO DE D.JOÃO MALDONADO DE AZEVEDO DA GAMA LOBO, E DE SEUS DESCE D.ES FOI REFORMADA A SUA CUS TA. EM 1825 Anotámos, na Sacristia, de valor artístico, os seguintes objectos cultuais-sumptuários: Cálice, de prata dourada, da 2.ª metade do séc. XVI, com decoração de motivos renascentistas e barrocos, gravados no nó, base e copa (alt. 23 cm). Naveta, de prata cinzelada e desenho naturalista, muito curiosa, do séc. XVII (alt. 20 em x comp. máx. 143 mm.). Turíbulo, de prata repuxada e cúpula aberta com temas vegetalistas, da mesma época; Naveta, de latão amarelo, lavrada, do séc. XVIII (vulgar); Turíbulo, de material, tipo e período da peça acima mencionada, de cúpula muito elegante, e Tese, encaixilhada e impressa em Coimbra, no ano de 1753, sob seda vermelha, de conclusões de Teologia Canónica de Francisco Pereira da Cunha Corte-Real. 

O claustro do convento, modesta obra de arquitectura funcional, levantado nos princípios do séc. XVII, compõe-se de cinco tramos com arcos de volta inteira e pilastras de granito, em planta quadrangular suportando uma abóbada de penetrações. As celas dos monges, no primeiro andar, deitam para a quadra, cujas janelas, minúsculas, eram de rústicas padieiras de granito; no centro, entre placas floridas, ergue-se o tanque e fonte da Água da Prata, de mármore branco de Estremoz, que foi inaugurado em Dezembro de 1619, por anel concedido pelo rei Filipe III de Espanha. O obelisco, muito curioso, compõe-se de balaústre circular com taça, donde rompe uma pira ornamentada de quatro águias de asas abertas sobrepujada por pinha estilizada. Dois painéis de azulejos policromos, de primitivos altares, hoje obstruídos, subsistem no recinto, em composições típicas do barroco e armorejadas com o emblema carmelita (2.° terço do séc. XVII). Em nicho de opulentas volutas de estuque, sobrepujante ao portal de acesso à sacristia, demora interessante, embora maltratada escultura de madeira de S. João Nepomuceno, proveniente da igreja Colegiada de Santo Antão. No pavimento, feito com lages de pedra e de placas de ardósia, sob campas tumulares ricamente brasonadas, de mármore e granizo, jazem alguns varões seiscentistas. Algumas estão anepígrafas; outras têm os letreiros completamente apagados, mas conseguem-se ler as seguintes: S.A PERPETVA DO CAPI TÃO LVIS PERDIGÃO BOCARRO F.CO EM DIA DO CORPO DE DS. DE 644 E DE SVA M.O IZA BEL PR.A SOTO, E P.A QEM ELLA QVIZER SEPVLTVRA PERPE TVA DE SEBASTIÃO RIBEIRO DE FARIA CA VALEIRO PROFESSO D O ÃBITTO DE CHRISTO E DE SVA MOLHER CAT ERINA MASCARENHAS E DE SEVS HERDEIROS S. D. FERNÃO DE LEMOS.D.S.M.O LVI ZA DA CVNHA. D S. ERDROS. FALEC.O A.3.D.MAIO.D.1623 SEPVLTVRA DE A.O GO MEZ E DE SVA MOLHER AMA LIA DA COSTA E DE SEVS ER DEIROS Das duas restantes campas armorejadas, de impossível leitura, do chão da claustra, uma ostenta o brasão dos Lemos e a outra não nos foi possível identificá-la. Segundo planta aprovada pelo Pe. Geral fr. António de Santo Eliseu, no mosteiro de Carnide, sede da Ordem em Portugal, no ano de 1710, o edifício foi ampliado com o novo Dormitório e outras melhorias necessárias, sendo nelas compreendidos o Refeitório e a Sala Capitular. 

Naquela dependência apenas escapou às adaptações do actual necrotério, um lavabo de mármore emoldurado, com o emblema da Ordem, da 2.ª metade do séc. XVIII. O Capitulo conserva o banco corrido da comunidade, de madeira, e o altar fundeiro com incaracterística e pobre tela de S. Bernardo adorando a Virgem do Leite; numa parede está embebido o cenotáfio do padre fr. Sebastião da Conceição, Geral dos Carmelitas, finado em 1733, que em lápide de mármore branco conserva este epitáfio: AQUI ESTÁ SEPULTADO O M.R.P.FR.SEB.AM DA CONCE IÇÃO (CALDEIRA DE BRITO) RELIG.O CARM.TA DES ÇO, O QUAL DEPOIS DE SER BENEMERITO PRELADO DE M.TOS CONV.TOS DESTA PROV.A PROV.AL DE TODA ELLA E DEFINIDOR G.AL FOI DIG NI.MO G.AL DA CONGREGA ÇAM DEL.A ESP.A CUJA SUPREMA PRELAZI A RECTISSIMA M. T.E E XERCITOU POR ESPA ÇO DE 6 AN. SENDO... Q P.A ELLA FOI ELEITO DES TA M.A PROV.A DE PORTUGA L. ERA N.AL DA V.A DA CERTÃ A FALECEO A 8 DE 7BRO DE 1733. ESTE LETER.O MAND OU FAZER SEU SOBR.O AN T.O PEIXOTO DE BRITO E SA RABODES F.O DO D.OR M.EL MENDES MEXIA PROV.OR Q. FOI NESTA CID.A DEV.A E M.OR NA DE PORTALEGRE Na cerca do Cemitério existe, por reconstituição de 1840, o majestoso portal de mármore róseo, regional, do Renascimento, proveniente da demolida igreja do Convento de S. Domingos. A notável peça está cronografada de 1537-38 e compõe-se de elementos decorativos do estilo clássico francês, com suas belas e expressivas máscaras antropomórficas e panóplias em baixo-relevo. 

É atribuível, segundo o prof. Reinaldo dos Santos, ao escultor picardo Nicolau Chaterene, artista que trabalhou nesta casa monástica, seguramente, no princípio do 2.° terço do séc. XVI, conforme a lição dos documentos coevos. Das edículas posteriores saíram para o Museu Regional, em 1944, duas boas imagens de mármore branco, quinhentistas, representando a Virgem em Adoração, gótica, e o Salvador do Mundo, mais tardia e da época presumível de D. João III. Do edifício e para a mesma secção arqueológica foi, também, uma preciosa escultura da Santíssima Trindade, de pedra de Ançã, com as características do gótico recentista da famosa Escola Eborense de escultura medieval. De merecimento recomendam-se, ainda, as seguintes imagens que, denominando os funéreos talhões e provenientes ao que a tradição afirma dos extintos Conventos de S. Domingos, N.ª S.ª da Graça e Cartuxa, subsistem sobrepujantes a formosos capitéis e colunas marmóreos do estilo clássico e das ordens jónica, dórica e toscana: Nossa Senhora dos Remédios, séc. XVI (interessante); Nossa Senhora do Leite, séc. XVI (de encostar); S. José e o Menino (mutilada e de factura inferior); S. João Baptista (mutilado e de execução inferior); S. Bruno, séc. XVII; S. Francisco Xavier, escultura barroca, do séc. XVIII. São todas de mármore branco de Estremoz. 

BIBL. Pe. Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, 1728, págs. 379-81; Pe. António Franco, Évora Ilustrada, 1945, págs. 359-363; Gabriel Pereira, Estudos Eborenses, fasc. Os Assédios de Évora em 1663, 1.ª parte, 1889; Túlio Espanca, Património Artístico do Concelho de Évora, 1957, págs. 49-54; Robert Smith, A Talha em Portugal, 1963. 

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